Via O DiaIndústria de casamentos cresce no Brasil
Dando uma olhada no workshop Inesquecível Casamento, que levou milhares de noivos e noivas neste fim de semana ao Hotel Intercontinental, não tem como não pensar: como é difícil se casar hoje em dia. São tantas as opções que tenho certeza de que, em algum momento, a noiva vai cogitar entrar para um convento e renunciar para sempre à vida a dois. Decidir se a pista de dança vai ser de LED, se os bem-casados serão de doce de leite com nozes ou chocolate, se os convites terão uma sobrecamada de papel manteiga, entre outras questões vi-tais, pode levar qualquer uma à loucura. Sem contar que os famosos vídeos que fazem a retrospectiva da história de amor dos pombinhos devem ser produzidos com recursos em 3D, com se fosse concorrer a um Oscar. E, de preferência, com o diretor James Cameron por trás das câmeras.
Casamento que se preze hoje no Brasil tem que ter recursos de show de rock: pirotecnia, iluminação a laser, fontes de chocolate, comida para matar a fome na África, DJs famosos (sábados livres só para daqui a dois anos), padres-celebridade, barraquinhas de iogurte e até amor sincero. E não me diga que você não gosta da coisa: só no ano passado, foram 1,7 milhão de festas como essa no Brasil, que renderam à indústria R$ 10 bilhões.
É muito interessante detectar os diferentes tipos de postulantes ao altar. Há as que levam as mães, geralmente as mais inseguras, que provam absolutamente tudo de todos os estandes e se martirizam diante do vasto cardápio de opções. Outras vão com as amigas, as mais divertidas, que geralmente terminam o dia — exaustas — numa mesa de bar tomando todas enquanto votam nos recursos que vão adotar no Dia D. O mais importante é jamais levar à feira o maior interessado, o noivo, para não ter estresse e desmanchar o noivado no mesmo dia. Homens não devem ser amolados com esse tipo de assunto — afinal, quando eles começam a fazer as contas, é briga na certa. Imagine o que se passa na cabeça de uma noiva quando ela ouve de seu futuro marido: “Mas para que essa forminha de doce tão cara se todo mundo joga o papel fora?”
Eles não foram criados para isso; sua função é estar no altar na hora certa e esperar uma hora de pé até que a princesinha resolva irromper a nave. Enquanto elas liam ‘Cinderela’, brincavam de Barbie e casinha e tomavam novela na veia, eles jogavam pelada com qualquer coisa redonda, sonhavam com a vitória do Flamengo na Libertadores e roubavam a ‘Playboy’ do irmão mais velho. No fundo no fundo, eles resolveriam tudo no cartório mesmo, poupando dinheiro para comprar ou melhorar o apartamento e investir numa TV de 900 polegadas. Mas pobre daqueles que assumirem suas convicções; enfrentarão a ira titânica dela e de toda sua família e serão eternamente lembrados, em qualquer briguinha, que um dia lhes passou na cabeça não ir àquela igreja. Não, sinceridade e cerimônia de casamento definitivamente não combinam.
Lembro bem duas festas carésimas a que fui recentemente. Numa, a noiva, meio bêbada, subiu no palco, roubou o microfone do cantor e pediu aos convidados: “Quem já saiu comigo aqui levanta a mããão!” Quando o noivo, coitado, tentou interromper o número, ela disparou que estava pagando por tudo aquilo e que podia dizer o que quisesse. Na outra, que aconteceu num salão de um hotel em São Paulo e foi louvada por todas as colunas e revistas, a noiva estava tão exausta que foi embora da festa sem levar o novo marido, porque simplesmente o esqueceu. Subiu para o quarto, trancou a porta e dormiu profundamente até o dia seguinte.
Afinal de contas, depois de toda essa epopeia, noivo é apenas um mero detalhe, uma quase forminha.
